"Seu" José, homem gordo, tinha um armazém
quase à beira da estrada, em triste lugarejo,
morava em casa grande com quintal também
e vendia bastante, somente a varejo.
Nos fundos do quintal havia um galinheiro,
onde, à noite, dezenas das aves dormiam
sossegadas, tranquilas, todas no poleiro
e em santa e grande paz, assim elas viviam.
"Seu" José, entretanto, o dono das penosas
não tinha boa fama como negociante
e até mercadorias podres, horrorosas
tentava ele vender com calma impressionante.
Na porta do armazém ele tinha pregado
uma placa bonita com um papagaio
que pelos seus fregueses era admirado,
que convidava a todos: - "Venham comprar paio"
Aprendia de tudo com facilidade
e passava a falar, num berreiro tremendo,
causando entre os ouvintes grande alacridade,
fazendo sempre ele um sucesso estupendo!
Certa vez, "Seu" José falou à sua mulher
que o bacalhau exposto já estava estragado
e a esposa perguntou-lhe: - "Você vai vender
esta mercadoria assim, desnaturado?"
- "Vou, sim", falou José, "pois ninguém o percebe,
estou acostumado com a freguesia.
Quem é sério demais, injustiças recebe,
você é mesmo tola, mulher de mania."
Dois minutos depois, chegou um comprador
olhando o bacalhau de apetite aguçado
e o belo papagaio, grande falador,
começou a gritar: - "Bacalhau estragado!"
- "Bacalhau estragado!" O freguês perturbado
"abriu" muito os seus olhos e nada comprou;
disse adeus ao vendeiro, muito encabulado
e, decepcionado, sua venda deixou.
Ao sair o freguês, José, indignado,
avançou para a ave arrancando-lhe as penas,
a tirando o infeliz todinho depenado
entre as aves bonitas, calmas e serenas.
Ficou o papagaio todo encorujado
num canto do poleiro, triste, aborrecido,
mas também todo trêmulo, muito assustado,
sem poder entender aquele acontecido.
As aves o olhavam com interrogação
quando se aproximou um pintinho pelado
e o papagaio disse-Ihe em grande aflição:
- "Também contou do peixe que estava estragado?"
Mariinha Mota
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