Um dia, no colégio, apareceu quebrada
uma vidraça. O velho professor da classe
conclamou a atenção da sala, em voz zangada,
instando a esse culpado que se apresentasse.
Mas ninguém se acusava; tremiam assustados.
O mestre repetiu a pergunta fremente,
batendo sobre a mesa com os punhos cerrados,
a todos demonstrando estar bem descontente.
Otávio, o menorzinho, o mais obediente,
o mais pobre também, afastando o companheiro
falou bem decidido, dando um passo à frente:
- Fui eu, professor, esse terrível arteiro.
- Vai ficar de castigo, disse o professor.
A grande sala agora parecia um templo.
Havia em cada rosto a piedade e a dor,
pois Otávio era olhado sempre como exemplo.
De repente, um soluço a princípio abafado,
toda a atenção da classe, assustada, chamou.
O velho professor encarou contristado
para o terceiro banco e a Paulinho falou:
- Levante-se menino, porque está chorando?
E Paulinho, que era sempre o mais levado,
ergueu-se e exclamou tremendo e soluçando:
- Sou eu, não o Otávio, o único culpado!
Fui eu quem quebrou a vidraça da escola,
quando há poucos instantes, antes do sinal,
chutava, alvoroçado, pequenina bola,
que a janela alcançou, quebrando-a prá meu mal!
O professor, voltando-se a Otávio, perguntou:
- Explique-se menino. Porque se acusou
de um ato tão nefando que não praticou?
O menino corando, a cabeça abaixou.
Logo a seguir então, já muito encabulado,
respondeu: - Quando estive doente,
Paulinho me ajudou, trazendo-me as lições, tudo bem copiado.
Se eu não me atrasei, devo isso ao seu carinho.
Na ocasião, disse a ele que ainda haveria
de lhe pagar com certeza, todo esse favor.
E chegou finalmente esse esperado dia:
foi o dia de hoje, caro professor.
O mestre emocionado fitou os dois amigos
E abraçou-se aos meninos em emotividade,
suspendendo por fim as penas e os castigos,
louvando-lhes a nobre e tão grande amizade.
Mariinha Mota
Nenhum comentário:
Postar um comentário